De 25 a 29 de novembro de 2024 ocorreu, na cidade de Fortaleza, o 8º Fórum Nacional de Museus, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). O evento, que tem regularidade bianual, estava há 7 anos sem ser promovido. Com o objetivo de discutir o campo dos museus, diversas atividades ocorreram simultaneamente em vários espaços culturais da cidade. Os eventos concentraram muita gente e muitas energias, tais quais: conferências, comunicações coordenadas, grupos de trabalho, painéis, programações paralelas, como visitas técnicas, minicursos, Encontro de Educação Museal – EMUSE, Teia da memória, o encontro do CECA LAC, entre outros.
O principal resultado do encontro foi a discussão e votação do novo Plano Nacional de Setorial de Museus, que, em sua nova redação, passará a orientar todo o setor museal brasileiro de 2025 a 2035.
O PNSM 2025/35 está orientado a partir de quatro eixos:
1. Democratização, participação social e institucionalização do campo museal
2. Identidade, patrimônio, memória e educação
3. Diversidade cultural e transversalidades de gênero, raça e acessibilidade na política museal
4. Fomento, sustentabilidade e economia dos museus
Anterior ao fórum, foram realizadas 22 reuniões dos encontros de discussão chamados “(Re) Conexões”, além de 12 encontros autogestionados e mais de 700 contribuições virtuais enviadas via site do Fórum. Como resultado do compilado dessas contribuições todas, durante o Fórum, nos reunimos para trabalhar na discussão das diretrizes, revisando a proposta síntese que seria apresentada na plenária para votação do novo PNSM.
No vídeo que acompanha essa publicação, vocês poderão assistir parte do debate ocorrido no grupo de trabalho da diretriz 2. Nele, debatemos a inclusão de uma nova diretriz, que trata especificamente sobre memórias traumáticas. Aquelas memorias que usualmente preferimos ocultar e silenciar, não enfrentar e que são deveras importantes para a democracia. E, nesse contexto de memórias traumáticas, o Fórum promoveu espaços de debates sobre memórias de grupos historicamente marginalizados. Tivemos roda de conversas com o GT de mulheres, encontro sobre museus e antirracismo, acessibilidade, diversidade sexual. Foram muitas as pautas contempladas.
A REBRAPESC realizou ainda uma visita técnica a dois lugares de memória vinculados ao passado ditatorial no Ceará, a casa onde morou Frei Tito, tombado e que está em processo de criação do Memorial Frei Tito e, o antigo DOPS de Fortaleza, que abriga o Memorial da Resistência do Ceará, criado desde 2006 e que agora passa por reformas para receber sua nova exposição de longa duração. Após as visitas, conduzidas por Ruben Ryan, coordenador do Memorial e participante da rede, realizamos uma roda de conversa com trocas de vários Sítios de Memória e Consciência, da Paraíba, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro. Além de reflexões trazidas fruto de pesquisas acadêmicas do museólogo da UFRB e participante da rede, Júlio Chaves.
É necessário ainda registrar que durante o fórum, soubemos da denúncia de um caso de racismo, denunciado por uma estudante de Museologia. De acordo com o Boletim de ocorrência realizado pela estudante, durante um dos dias do evento, uma das diretoras do Instituto teria cometido uma abordagem racista. Repudiamos todo tipo de discriminação e violência e corroboramos a importância, feita pela presidenta do Instituto em plenária, de que a denúncia seja apurada com rigor, seriedade e que essas práticas sejam extintas das instituições e dos eventos do campo.
Este que é um território importante para debates efetivamente transformadores e temos condições de fazer os debates necessários com respeito, diálogo, atendendo às normas legais e educando para os direitos humanos: sem violência, respeitando a diversidade, enfrentando as divergências e fortalecendo o campo.
Nesse sentido, agora temos, no PNSM, uma nova diretriz que acentua a importância de enfrentarmos nossas memórias traumáticas em prol dos valores democráticos e dos direitos humanos. Esperamos contar com você para pensarmos coletivamente, seja na REBRAPESC ou em outros espaços de produção e discussão dos conhecimentos, estratégias e ações para que nos próximos 10 anos, possamos registrar avanços nesse campo no Brasil.
Simbora juntas, juntos e juntes, esperançar! Um xero.
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