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SIMPÓSIOS TEMÁTICOS
(Trabalhos Aprovados)

APRESENTAÇÕES:
Quarta-feira, 2 de julho de 2025
9 - 12 h  - Mesa 01
14 - 18h - Mesa 02
LOCAL: Memorial da Resistência - SP

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Oscar Eduardo Avello Avello (1954-1976): “soy una fotografia de un desaparecido”
Apresentação: Julio Cézar Chaves

Resumo: Presento uno de los capítulos de mi tesis de doctorado defendida en 2024 y titulada “El olvido está lleno de memoria”: fragmentos, enterramientos y ausencias de la mítica Mesa-Redonda de Santiago do Chile, 1972, bajo la orientación de la Profa. Judite Primo, de la Universidad Lusófona (ULusofona), Portugal. Este recorte del trabajo de investigación busca compartir algunos fragmentos biográficos de Oscar Eduardo Avello Avello (1954-1976), militante del Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) y representante de los estudiantes del Centro Nacional de Museología (CNM), con sede en el Museo Nacional de Historia Natural de Chile (MNHN), participante en la Mesa-Redonda de Santiago do Chile (MRSC) como observador. En mayo de 1972 Oscar Eduardo Avello Avello tenía 18 años de edad, lo que lo convierte en el participante más joven de la MRSC. Cuatro años depués, el 24 de junio de 1976, fue detenido por agentes de la Dirección de Inteligencia Nacional (DINA) en sua residencia y nunca más fue visto, convirtiéndose en el único detenido desaparecido del acontecimiento de mayo de 1972. El capítulo de la tesis sólo fue posible por mi encuentro en la Biblioteca Científica Abate Juan Ignacio Molina del MHHN con el museólogo Miguel Ángel Azócar, ex-alumno del CNM, colega de Oscar Eduardo Avello Avello y discípulo de la arqueóloga, antropóloga, museóloga y coordenadora de la MRSC, Grete Mostny, además de la colaboración de la Agrupación de Familiares Detenidos Desaparecidos (AFDD), del Museo Sitio Corporación Parque por la Paz Villa Grimaldi y de la Fundación de Documentación y Archivo de la Vicaría de la Solidaridad.

A destruição do Ilê Asé Odé Ibualamo e sua compreensão como lugar de memórias traumáticas”
Apresentação: Gloria Kok

Resumo: A presente comunicação discute metodologias desenvolvidas na produção de documentação sobre o Ilê Asé Odé Ibualamo, terreiro assentado em Carapicuíba/SP e destruído pela Prefeitura em dezembro de 2022. Compreendemos esse lugar como sítio de memórias traumáticas para a população negra em geral e a comunidade local em particular, posicionando a demolição do terreiro e a perseguição religiosa dentro de um quadro geral de violências sistemáticas sofridas pelas populações afrodiaspóricas desde o advento da colonização e o estabelecimento da escravidão mercantil. Esse enquadramento baseia-se, por um lado, na tradição de estudos referentes ao sofrimento impetrados por práticas racistas cotidianas e repetidas, na qual se inserem Frantz Fanon (2008 [1952]), Lélia Gonzalez (2020) e Grada Kilomba (2019). Por outro lado, os trabalhos de Abdias Nascimento (2016 [1977]), Aimé Césaire (1978 [1955]) e Achille Mbembe (2016 [2003]) apontam para o “genocídio do negro brasileiro” e os contextos gerais de colonialismo e imperialismo que sustentam as políticas de morte levadas a cabo pelo Estado moderno. A partir desse panorama, defendemos a ampliação do conceito de memórias traumáticas, para além de eventos de recorte geográfico e temporal mais concentrados e de mais fácil delimitação, como é caso do Holocausto e das ditaduras civis-militares latino-americanas. A destruição do Ilê é compreendida como evento manifesto dentro de políticas de morte amplas, dissimuladas e generalizadas, em que locais de reunião social e religiosa da população negra têm sido alvos recorrentes, desde a extinção de quilombos e criminalização de batucadas até a invasão, saque e demolição de terreiros de candomblé e umbanda, realizada tanto em regimes ditatoriais (BRASIL, 4 Abril 2024) como em períodos democráticos da história recente (MDHC, 21 Jan. 2024). Subsidiando a formação de um centro de referência da cultura de povos de matriz africana – reivindicação da comunidade do Ilê –, analisamos os processos e resultados do projeto “A destruição do terreiro Ilê Asé Odé Ibualamo: patrimônios e caminhos de reparação” (Edital CAU Patrimônio Cultural 005/2023, Termo de Fomento 020/2023), que buscou subverter o apagamento material, subjetivo, humano, histórico e historiográfico então em curso. No ensejo da esfera acadêmica e em diálogo com os atividades de campo, o projeto fundamentou-se em: princípios de pesquisa em história oral (MEIHY, 2005; THOMPSON (1992 [1978]); levantamento de acervos comunitários como enfrentamento dos apagamentos documentais (MENESES, 1998; AUERBACH, 2018; HARTMAN, 2021; VERGÈS, 2023); “escrevivência” (EVARISTO, 2021); e articulação entre memória e materialidade (HALBWACHS, 1990 [1950]; POLLAK, 1992, NORA, 1993).

A musealização da tragédia como forma de promoção de direitos: Memorial Brumadinho, dignidade humana e direito à memória.
Apresentação: Pauline Louise Araújo Silva 

A presente comunicação tem como objetivo compartilhar relato de experiência acerca da recente implantação do Memorial Brumadinho, um sítio de memória e consciência, localizado no bairro rural do Córrego do Feijão, no município de Brumadinho/MG, território que foi profundamente marcado pelo rompimento de uma barragem de mineração da empresa Vale S.A, ocorrida em 2019. O rompimento da barragem, segundo apontam as investigações da Polícia Federal, teria sido fruto de uma opção pelo risco, causando em questão de minutos a perda de 272 vidas humanas e a devastação ambiental de centenas de quilômetros adiante. Do luto coletivo nasce a Associação de Familiares de Vìtimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão/Brumadinho - AVABRUM, que passa a lutar por memória, justiça, encontro, não repetição e pelos direitos dos familiares. Como uma de suas reivindicações, a AVABRUM demanda a criação de um local digno para salvaguardar os segmentos corpóreos de seus entes queridos, cujos corpos não puderam ser recuperados íntegros devido à brutalidade da onda de lama tóxica. Nasce então a luta pela criação do Memorial Brumadinho, como um local de honra e homenagem às vítimas fatais. Atuando como empreendedores da memória (JELIN, 2002), agentes que visam o não esquecimento de eventos através de processos de transmissão geracional, um dos aspectos centrais é a construção da memória pública, à partir de 2019, a AVABRUM enfrentou batalhas com a mineradora para a efetiva criação do Memorial Brumadinho. Após longo processo de disputas narrativas e políticas, com a intervenção do Ministério Público de Minas Gerais, foi firmado um Termo de Compromisso em que a empresa se responsabilizou pelo custeio das obras e da implantação do memorial, sem, no entanto, poder utilizar a construção do Memorial e seu nome em nenhuma peça publicitária de suas ações de reparação no território. Anos de embates se passaram até a inauguração efetiva do Memorial, em 25 de janeiro de 2025. Para a gestão autônoma do Memorial, foi firmado junto ao MPMG a criação da Fundação Memorial de Brumadinho, entidade privada sem fins lucrativos, com objeto social específico para garantir a sua manutenção perene. Com a criação da Fundação e a chegada de equipe técnica, constatou-se a necessidade de sua adequada conceituação para garantir um plano de sustentabilidade realista, afastando a visão de monumento e se aproximando da definição de um museu memorial, conforme definição de Sodaro (2018). Desta forma, a comunicação pretende apresentar aspectos deste processo de implantação, perpassados pelos conceitos museológicos atinentes que subsidiam a gestão deste novo sítio de memória e consciência em funcionamento no Brasil.

Comitê Santo Dias e a produção de um contramonumento vivo
Apresentação: Pablo Pamplona

Resumo: Em 1979, durante a ditadura empresarial-militar brasileira (1964-1985), um policial militar assassinou Santo Dias, um militante católico e líder sindical, enquanto ele participava de um piquete de greve na frente de uma fábrica na Zona Sul de São Paulo. A repercussão de sua morte reuniu cerca de 10.000 pessoas para a cerimônia de corpo presente no centro da cidade. No ano seguinte, familiares e amigos organizados pelo Comitê Santo Dias realizaram uma homenagem no local da morte, que ainda é realizada todos os anos. A cada aniversário, eles repintam no asfalto da Rua Guararibeia a frase: "aqui foi assassinado o operário Santo Dias da Silva em 30/10/1979 pela Polícia Militar". Em seguida, caminham até o cemitério local, onde ele foi sepultado, e celebram uma missa em frente ao seu túmulo. Partindo de desenvolvimentos teóricos sobre o conceito de metamorfose e de estudos contemporâneos sobre as dinâmicas da memória social na luta social, esta apresentação examina a metamorfose da memória de Santo Dias nas lutas sociais da periferia de São Paulo. Sua morte trouxe um novo significado à ideia de martírio compartilhada pelos movimentos sociais católicos no território, sua memória foi incorporada à memória de outros mártires e lutas sociais emergentes, e metamorfoseou em ressonância com mudanças sociais mais amplas. Ao mesmo tempo, encontramos aqui duas aparências de não-metamorfose: a persistência das instituições de opressão da ditadura na democracia; e a persistência da comemoração do Comitê, a contínua reinscrição de um contramonumento no asfalto. Distingo a primeira como “produção de mesmice”, isto é, a redução da mudança histórica a dados estáticos, da segunda, a não-metamorfose como “teimosia”, uma forma de resistência contra a força contínua da alienação do próprio passado. Assim, proponho uma análise crítica das tensões dialéticas entre processos de maleabilidade e persistência dentro da dinâmica da memória nas lutas sociais.

Memória, Cultura e Identidade na Região Metropolitana de São Paulo: Um museu da classe operária
Apresentação: Camila Seebregts

Resumo: A pesquisa investiga como os operários e operárias da cidade de São Paulo e de municípios da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) delineiam a identidade e cultura da classe operária a partir de sua memória coletiva. Além disso, enfoca em como as transformações ocorridas nos planos econômicos, sociais e políticos ao longo das décadas de 1980, 1990 e o começo do século XXI impactaram a visão deste grupo sobre a necessidade de preservação de sua memória e também sobre as dinâmicas culturais, sociais e políticas deste setor da classe trabalhadora. A pesquisa trata dos efeitos da ditadura empresarial cívico-militar após a democratização, da desindustrialização brasileira entre os anos 1990 e 2000, do avanço do neoliberalismo, da reestruturação produtiva no país, das mudanças da capacidade organizativa e de mobilização do movimento operário comparada ao período do Novo Sindicalismo, a vitória de Lula (2003-2010) - um operário, e a política cultural e de memória do MinC neste período. A partir dessas considerações e de entrevistas com operários e militantes da região, a pesquisa analisa como essa cultura e identidade operária se materializaram em um Museu da Classe Operária, alicerçada nas concepções da Museologia Social.

“A História é Clara [Anahí]”: uma ação extensionista de Educação em Direitos Humanos no sul baiano
Apresentação: Carolina Bessa Ferreira de Oliveira

Resumo: A Educação em Direitos Humanos (EDH) tem se firmado, historicamente, como um terreno fértil para a consecução de processos educativos escolares e populares em torno do fortalecimento da democracia. Tomando como fundamento as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, publicadas em 2012 pelo Conselho Nacional de Educação, apresentamos notas reflexivas sobre uma experiência prática em EDH que vem sendo realizada a partir de uma parceria entre educação superior e educação básica no sul baiano, especificamente ancorada em projeto de extensão promovido pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) em Porto Seguro. A ação, realizada desde 2019, consiste em oficinas semanais com estudantes de ensino médio da rede pública estadual de ensino, em uma escola de tempo integral em Porto Seguro, cujas temáticas são diversas e construídas a partir das sugestões das/os participantes, que voluntariamente aderem às oficinas mediadas por estudantes e servidores docentes e técnicos da UFSB. Em 2025, o projeto realizou uma oficina tematizando o direito à memória e à verdade histórica, intitulada “A história é Clara [Anahí]”, que propôs um debate-dinâmica com base na história de uma bebê sequestrada pela ditadura civil-militar argentina, na cidade de La Plata, em 1976. A partir da leitura de uma carta datada em 12 de agosto de 1981 escrita por uma das fundadoras da Abuelas de Plaza de Mayo, Chicha Mariani endereçada à sua neta, Clara Anahí, e uma breve exposição das configurações sociais do Cone Sul no período em questão, as/os participantes da oficina conheceram o caso e dialogaram em roda de conversa sobre ditadura militar, Direitos Humanos e América Latina. Na sequência, redigiram cartas escritas endereçadas à bebê, hoje, uma senhora de 48 anos ou à Asociación Anahí, criada com o objetivo de encontrar crianças que foram sequestradas durante a ditadura civil-militar argentina.

AS DENÚNCIAS DE TORTURA NO DOI-CODI/SP PRESENTES NO RELATÓRIO BRASIL: NUNCA MAIS
Apresentação: Isadora Aparecido Fernandes da Rosa

Resumo: Criado de maneira extralegal com o nome de Operação Bandeirante (Oban) em 1969 atrás da 36ª Delegacia de Polícia de São Paulo na Vila Mariana, o DOI-Codi foi um órgão extremamente importante para a repressão durante o período da Ditadura Militar (1964-1985). Com o objetivo de localizar indivíduos e/ou grupos que fossem considerados subversivos, o DOI-Codi perseguiu, prendeu, torturou e assassinou pessoas ao redor do país. Em 2014, com o tombamento do prédio onde este órgão operou por mais de uma década, a reivindicação por um memorial ganhou força. Este trabalho de Iniciação Científica — sob o financiamento do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania — está inserido no projeto de Pós-Doutorado “Memorial Virtual DOI-Codi II Exército: um lugar para a memória sobre o maior centro de sequestro, tortura e morte da Ditadura brasileira” conduzido pela pesquisadora Deborah Neves. A pesquisa se focou em realizar levantamento e organizar as informações obtidas dos depoimentos presentes no Tomo V do “Relatório Brasil: Nunca Mais” que foram prestados na Justiça Militar durante o período de atuação do DOI-Codi, para que fosse possível construir um perfil dos presos.

Mapa interativo dos Sítios de Memória e Consciência no Brasil
Apresentação: Ana Paula Ferreira de Brito

Resumo: Sítios de memória e consciência são instituições culturais dedicadas à ativação de memórias de passados traumáticos para a promoção da educação e respeito aos direitos humanos. Nessas instituições, nomeadas de museus ou memoriais, são desenvolvidos processos museológicos que operam com memórias de violências para gerar consciência e ação frente problemas sociais do presente. Frente a um considerável aumento dessas instituições no Brasil, o trabalho apresenta o mapa interativo que se propõe mapear e difundir essas ações museológicas implantadas e reivindicadas no Brasil. O mapeamento, em processo de desenvolvimento, está considerando as seguintes tipologias: Museu; Monumento musealizado; Patrimônio Histórico; Local de trauma disputado para musealização; e, Ponto de memória. E busca ampliar a temática, reconhecendo na busca instituições que operam com as memórias da ditadura, mas também amplia para temáticas vinculadas à escravidão; violência de gênero; crimes e desastres ambientais e, genocídios e crimes massivos. A plataforma é resultado de pesquisa de Pós-doutorado da historiadora e museóloga Ana Paula Brito, desenvolvida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo entre setembro de 2024 a abril de 2025 com financiamento FAPESP. Em maio de 2025 passou a contar com financiamento da Universidade Federal de Pernambuco como projeto de pesquisa docente do Departamento de Antropologia e Museologia.

Memória em Disputa: Percepções da Comunidade sobre a Memorialização do Lar Santana em Ribeirão Preto
Apresentação: Maria Alice Venâncio Albuquerque

Resumo: O presente artigo investiga como a população do entorno do Lar Santana, em Ribeirão Preto, percebe os processos de memorialização associados ao prédio, marcado por episódios de resistência à Ditadura Militar brasileira. A pesquisa parte do entendimento de memória como um fenômeno social, dinâmico e disputado, especialmente quando vinculado a contextos traumáticos e de violações sistemáticas de direitos humanos. A questão central que orienta este trabalho é: qual a percepção da população do entorno do Lar Santana sobre os processos de memorialização do local? A hipótese sugere que, assim como ocorre na sociedade em geral, coexistem diferentes memórias no bairro, que impactam tanto as expectativas quanto as resistências à transformação do espaço em um sítio de memória. Argumenta-se que a memória coletiva, nesse contexto, não se limita à reprodução da chamada “verdade oficial”, mas é atravessada pela experiência cotidiana dos moradores, pela deterioração física do edifício e pela ausência de uma destinação social definida desde seu fechamento. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, alinhada a uma epistemologia comprometida com os Direitos Humanos, que busca não apenas levantar dados, mas também fomentar a reflexão crítica junto à comunidade local. A metodologia combina análise documental, levantamento de discursos oficiais e entrevistas semiestruturadas com moradores do entorno, permitindo compreender como memórias oficiais e vividas se tensionam na definição do futuro do Lar Santana. O estudo reforça que a memorialização não é um ato neutro, mas um processo ético e político, que exige escolhas sobre o que lembrar, como lembrar e por quê, sobretudo diante de um passado autoritário cujos impactos reverberam no presente.

A destruição do Ilê Asé Odé Ibualamo e sua compreensão como lugar de memórias traumáticas
Apresentação: Amália Cristovão dos Santos

Resumo: A presente comunicação discute metodologias desenvolvidas na produção de documentação sobre o Ilê Asé Odé Ibualamo, terreiro assentado em Carapicuíba/SP e destruído pela Prefeitura em dezembro de 2022. Compreendemos esse lugar como sítio de memórias traumáticas para a população negra em geral e a comunidade local em particular, posicionando a demolição do terreiro e a perseguição religiosa dentro de um quadro geral de violências sistemáticas sofridas pelas populações afrodiaspóricas desde o advento da colonização e o estabelecimento da escravidão mercantil. Esse enquadramento baseia-se, por um lado, na tradição de estudos referentes ao sofrimento impetrados por práticas racistas cotidianas e repetidas, na qual se inserem Frantz Fanon (2008 [1952]), Lélia Gonzalez (2020) e Grada Kilomba (2019). Por outro lado, os trabalhos de Abdias Nascimento (2016 [1977]), Aimé Césaire (1978 [1955]) e Achille Mbembe (2016 [2003]) apontam para o “genocídio do negro brasileiro” e os contextos gerais de colonialismo e imperialismo que sustentam as políticas de morte levadas a cabo pelo Estado moderno. A partir desse panorama, defendemos a ampliação do conceito de memórias traumáticas, para além de eventos de recorte geográfico e temporal mais concentrados e de mais fácil delimitação, como é caso do Holocausto e das ditaduras civis-militares latino-americanas. A destruição do Ilê é compreendida como evento manifesto dentro de políticas de morte amplas, dissimuladas e generalizadas, em que locais de reunião social e religiosa da população negra têm sido alvos recorrentes, desde a extinção de quilombos e criminalização de batucadas até a invasão, saque e demolição de terreiros de candomblé e umbanda, realizada tanto em regimes ditatoriais (BRASIL, 4 Abril 2024) como em períodos democráticos da história recente (MDHC, 21 Jan. 2024). Subsidiando a formação de um centro de referência da cultura de povos de matriz africana – reivindicação da comunidade do Ilê –, analisamos os processos e resultados do projeto “A destruição do terreiro Ilê Asé Odé Ibualamo: patrimônios e caminhos de reparação” (Edital CAU Patrimônio Cultural 005/2023, Termo de Fomento 020/2023), que buscou subverter o apagamento material, subjetivo, humano, histórico e historiográfico então em curso. No ensejo da esfera acadêmica e em diálogo com os agentes da comunidade integrantes da equipe e participantes das atividades de campo, o projeto fundamentou-se em: princípios de pesquisa em história oral (MEIHY, 2005; THOMPSON (1992 [1978]); levantamento de acervos comunitários como enfrentamento dos apagamentos documentais (MENESES, 1998; AUERBACH, 2018; HARTMAN, 2021; VERGÈS, 2023); “escrevivência” (EVARISTO, 2021); e articulação entre memória e materialidade (HALBWACHS, 1990 [1950]; POLLAK, 1992, NORA, 1993).

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A teoria moral dos direitos humanos e a sua transformação em objeto de museu - casos latino-americanos
Apresentação: Carolina Gomes Nogueira

Resumo: A presente comunicação visa discutir o processo de musealização da teoria moral dos direitos humanos. Desde a década de 1955, com a inauguração do Hiroshima Museum, o tema dos direitos humanos vem ganhando notoriedade como objeto de museu. Isso deve-se não somente ao fato da criação da UNESCO, como também da necessidade de promover a cultura dos direitos humanos. De tal forma, desde o início da década de 1950, a abordagem que se pretendia dar ao conceito de direitos humanos em museus estava intrinsecamente conectada ao universo da memória e do pós-trauma. Portanto, a criação da categoria museológica "museus de memória" na década de 1980, surge com a proposta de promover a reparação simbólica pela memória e de favorecer a cultura dos direitos humanos. Assim, os estudos dessa tipologia de museu sempre esteve voltado para a questão da memória e dos processos de memorialização, deixando evidente que a relação entre ambos os discursos, memória e direitos humanos, é sobredeterminada, intrínseca e ganharam força juntos (Huyssen, 2014). Contudo, o processo de musealização dos direitos humanos ainda é pouco estudado, pois sempre esteve conectado aos estudos de memória. Embora seja a memória que alimenta o discurso dos direitos humanos, "fornecendo um elo substancial entre passado e futuro" (Huyssen, 2014, p. 196), é preciso investigar o processo de musealização da teoria moral. Ainda que haja autores, como a canadense Jennifer Carter, que propõe o estudo de uma Museologia dos Direitos Humanos, há pouca bibliografia sobre o assunto. A Museologia Crítica (Van Mensch, 1982) vem fomentando a discussão sobre o papel crítico do museu e é nessa abordagem que este trabalho se insere, buscando destacar a teoria moral dos direitos humanos como um dos elementos co-fundadores dos museus de memória, questionando o processo de musealização dos direitos humanos a partir de uma perspectiva relacional, afirmativa e interdisciplinar.

POR UMA CRÍTICA AO INTELECTUALISMO MORAL EXPRESSA NO BINÔMIO MEMÓRIA E CONSCIÊNCIA
Apresentação: Giovane Rodrigues Jardim

Resumo: Nas demandas de mobilizadores por memória nos países do Cone Sul, com também nas medidas e políticas públicas de memória implementadas, cada vez mais está presente o discurso sobre a relação entre memória e consciência. Temos presente este binômio expresso, por exemplo, no que se tem entendido como no conceito e/ou categoria de “sítios de memória e de consciência”. Encontramos debates sobre o que se entende por um “sítio de memória” ou “lugar de memória”, em acepções mais ou menos abrangentes, com distinções entre os diferentes idiomas e interpretações sobre a origem e a filiação teórica destas concepções. Propomos que não se tratam de um único conceito e/ou categoria, mas de dois que podem coexistir ou não, ou seja do que se debate analiticamente sobre um “lugar de memória” (NORA, 1984), e de “sítios de consciência” (CSC, 2016). Mas o binômio entre memória e consciência é pouco debatido, ou seja, de que a memória conduz a consciência o que, entretanto, ao menos desde Halbwachs (1950) tem-se presente que a memória não é o alicerce da consciência. Tendo esta relação em suspensão, a concepção de que a memorização de algo enquanto conhecimento racional e emocional, resultaria em não repetição, seria um exemplo de intelectualismo moral? Trata-se da confiança em uma relação de causa e efeito entre memória/verdade e a consciência/não repetição? Expressam a acepção de que o conhecimento do bem é suficiente para o agir moralmente? Se admitido o intelectualismo moral, portanto crimes como os cometidos durante as ditaduras civis-militares não estão relacionados a fraqueza da vontade ou a más intenções, e assim desconsidera-se a banalidade do agente do mal radical que, a despeito dos outros e de si mesmo, escolhe cometer tais crimes pelas vantagens e lucros que obtém. A partir destas questões, compreendemos a necessidade de debate sobre o que se entende por trabalho da memória, bem como das experiências formativas a serem oportunizadas em sítios de memória e/ou sítios de consciência, tendo presente que não é somente o desconhecimento e/ou ignorância que possibilitam violações aos direitos humanos. Este trabalho foi realizado com o apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

De corpo presente: a experiência de caminhar pela história da cidade.
Apresentação: Paula Janovitch

Resumo: Nos últimos anos, explorar a vida e a história das ruas de São Paulo tornou-se uma atividade cultural muito importante. A produção acadêmica também se aventurou no espaço público para experimentar a cidade, não apenas como objeto de pesquisa, mas como espaço de diálogo, ativação de memórias, experimentação com novos recursos pedagógicos, compartilhamento de pesquisas e percursos históricos a pé pela cidade. Desde 2016, a ideia de experimentar a cidade e construir itinerários que tragam reflexão e compartilhamento faz parte dos meus interesses de pesquisa. Costumo chamar esta prática de 'pesquisa em andamento', pois faço parte dos pesquisadores que se lançaram nas ruas e tentam manter uma via de mão dupla entre a experiência no território e a produção acadêmica. Com essa perspectiva, pretendo apresentar aqui algumas reflexões e aprendizados com um percurso específico que faço desde 2017 nas Jornadas do Patrimônio Histórico de São Paulo e outros eventos de São Paulo com o título “Prostituição e confinamento na cidade de São Paulo: um percurso pela antiga zona do meretrício do Bom Retiro”. Este roteiro busca reconstruir no bairro do Bom Retiro a história do confinamento da prostituição que ocorreu entre 1940 e 1953, em duas estreitas ruas circunvizinhas ao paredão de pedra da linha do trem e à rua José Paulino no período mais duro do Estado Novo. Justificava-se à época que o confinamento das prostitutas era necessário a fim de “limpar” o centro de São Paulo. A partir das ruas onde ocorreu o confinamento, gostaria de apresentar a maneira como o conteúdo do roteiro vai se transformando à medida que é repetidamente aplicado no território, assim como a forma com que as pessoas que fazem o percurso percebem este lugar que só existe à medida que o percorremos. De que maneira o ato de praticar o território narrando e compartilhando esta história reabita o lugar com memórias que foram praticamente apagadas destas ruas hoje totalmente comerciais.

Discursos de justiça e reparação no campo da memória social: a reivindicação de escritas ordinárias como legados documentais em lutas por reconhecimento
Apresentação: Cristiéle Santos de Souza

Resumo: No diverso e conflituoso campo de interesse que reúne mobilizadores por memória (Jardim, 2023), pesquisadores e gestores de instituições dedicadas à salvaguarda documental, são comuns as reivindicações por justiça e reparação. Essas reivindicações, em sua maioria provenientes de indivíduos e grupos vitimados e invisibilizados pela ação repressiva do Estado, expõem as lacunas deixadas pelas políticas de memória e por seus desdobramentos na memória pública. Há, no entanto, aqueles que empregam o mesmo discurso por justiça e reparação para estabelecer as bases de uma luta por reconhecimento (Honneth, 2003) no campo da memória social, reivindicando a imagem do “herói”, como um modelo de ação moral na política, visando reestabelecer agremiações e movimentos baseados em discursos saudosistas e em demandas historicamente “superadas”. Com foco nos movimentos de reivindicação memorial promovidos por agremiações de caráter político-cultural associadas à memória do Integralismo e aos seus símbolos, nesta comunicação, a partir da discussão proposta por Jeanne Marie Gagnebin (2009) acerca das noções de “rastro” e “cicatriz”, proponho pensar a reivindicação de escritas ordinárias como legados documentais, preservados e publicizados em diferentes contextos, bem como o potencial discursivo e afetivo que essa tipologia de documento tem no âmbito das construções narrativas que sustentam a memória social brasileira.

Memorias em disputa: as novas reivindicações das direitas radicais em torno dos lugares de memória na Argentina
Apresentação: Virginia Vecchioli

Resumo: Esta apresentação analisa as formas pelas quais as gerações mais jovens de ativistas da "nova direita" usam, contestam e redefinem termos e expressões emblemáticos da memória do terrorismo de Estado que cimentaram e definiram a relação entre democracia e passado recente. Para tanto, analisa duas cenas públicas protagonizadas por esses jovens ativistas durante o período de 2020 a 2023: as intervenções na estação de metrô Rodolfo Walsh e as leituras, interpretações e ações que os levaram a desafiar as medidas de isolamento social obrigatório durante a pandemia de covid-19. Essas cenas mostram que esses jovens, nascidos e criados na democracia, encontraram oportunidade política durante a pandemia para mobilizar categorias, princípios ou valores, frequentemente aprendidos na escola, para dar sentido ao passado recente, para se posicionar tanto em relação ao passado quanto no presente em relação a seus oponentes, adversários e concorrentes. A complexidade desse trabalho político — que eles chamam de "batalha cultural" — nos convida a explorar os múltiplos significados e os diversos usos que eles atribuem a essas categorias e repertórios de mobilização.

O Patrimônio das Secas no Ceará (1877-1932): Edificações e trajetórias retirantes
Apresentação: Nauhan dos Santos Dias

Resumo: Esse texto propõe a discussão da produção arquitetônica construída com a justificativa do assistencialismo aos retirantes das grandes secas no Ceará entre os anos de 1877 e 1932. Tem como objetivo refletir sobre os discursos e interesses que justificaram a produção espacial em respostas aos deslocamentos de sertanejos. Tem como hipótese a premissa de que o poder público utilizou de políticas de disciplinamento, isolamento e extermínio dos refugiados da seca, a partir de um modelo de socorros públicos baseado na privação de liberdade, na migração e trabalho forçados. Através da análise de relatórios de falas provinciais, fontes jornalísticas, fotográficas e de bibliografia especializada pretende-se apresentar as construções discursivas que foram pano de fundo para a criação da Arquitetura do Êxodo e de uma memória oficial das secas.

Vestígios e Silêncios: Encenações Arquitetônicas dos Lugares de Memória Ditatorial no Cone Sul
Apresentação: Alessandra Schunski Gonçalves

Resumo: A pesquisa em andamento investiga como a produção arquitetônica - adaptada, construída, ou apenas esboçada - de lugares de memória das ditaduras do Cone Sul se inscreve na paisagem contemporânea, disputando narrativas sobre violência de Estado e tensionando, ao mesmo tempo o direito à memória e à cidade. A partir dos conceitos Pierre Nora e Henri Lefebvre, são comparados quatro sítios onde a arquitetura encena distintas performances de fingimento: - Finge que já cicatrizou: Villa Grimaldi (Santiago) transforma o antigo centro de tortura em parque de conciliação, suavizando feridas com cenografias reconstruídas. - Finge que nunca existiu: o Museu dos Direitos Humanos do Mercosul (Porto Alegre), inaugurado em 2014 e extinto por decreto em 2019, converte-se em um vazio institucional que materializa o apagamento estatal. - Finge o que não é: Dopinha (Porto Alegre), pioneiro da repressão brasileira, permanece no mercado imobiliário enquanto movimentos lutam por tombamento. - Finge que não há projeto: o concurso ex-ESMA, em Buenos Aires (2011), cujo anteprojeto premiado permanece no papel, fazendo do traço arquitetônico o único suporte da memória. Para investigar essas encenações emprega-se uma matriz 0-5 que pontua seis dimensões (indexicalidade material, inserção urbana, acessibilidade, programação, diversidade de públicos e profundidade narrativa), alimentada por revisão bibliográfica, análise documental, cartografia crítica e saídas de campo. Os primeiros achados indicam que a materialidade — ou sua ausência — define quem pode lembrar e onde esse lembrar ocorre. Projetos premiados que não avançam, espaços inaugurados depois esvaziados e edifícios apropriados por usos banais revelam fissuras entre intenção memorial e prática urbana: quando o sítio permanece inacessível, periférico ou politicamente travado, o direito à memória não se converte em usufruto coletivo do espaço urbano. Ao evidenciar essas tensões e apontar critérios para mensurá-las, o estudo contribui para políticas de patrimonialização que tornem a lembrança não apenas possível, mas efetivamente habitável pelas diversas vozes que compõem a vida urbana.

A LINGUAGEM ARTÍSTICA DE ANTONIO BENETAZZO, NUM TEMPO DE DITADURA
Apresentação: VERA LUCIA APARECIDA SILVA SOUZA

Resumo: O artigo é parte da tese defendida em maio/2025, com intuito de contribuir com a história, e história da arte. Nesta conversa é abordada a história de Antonio Benetazzo, um ítalo-brasileiro que viveu no Brasil de 1951 a 1972. Benetazzo, era estudante de arquitetura e filosofia na USP, e como artista deixou aproximadamente 200 obras, que se encontram guardadas em casas de amigos e familiares. Bene como artista e militante se empenhou na luta pelo fim da opressão do país. No documento foram analisados momentos da história e da história da arte, para a compreensão da trajetória artística e militante de Antonio Benetazzo e para avizinhar-se dos movimentos criativos do artista, nos aproximamos dos fundamentos teóricos da fenomenologia da percepção de Maurice Merleau-Ponty, para situar compreensões sobre percepção do olhar, corpo operante e mundo habitado, no processo criativo.

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